LINGUÍSTICA: ENTENDENDO A CIÊNCIA DA LINGUAGEM

          

      Seja bem-vindo(a) a este espaço de pequenas leituras e grandes diálogos! Neste primeiro momento, introduziremos nossas discussões com algumas ideias acerca do conceito de Linguística, destacando algumas das suas áreas de estudo e o vínculo com a pesquisa que estamos desenvolvendo.

O que é Linguística?


      O interesse pela linguagem é muito antigo, advindo dos interesses que a humanidade possuía por mitos, lendas, cantos, rituais ou por trabalhos eruditos que buscavam conhecer essa capacidade humana. Entretanto, foi no século XX, através da divulgação dos trabalhos de Ferdinand de Saussure (professor da universidade de Genebra), por meio da publicação da obra "Curso de Linguística Geral", que a Linguística passou a ser reconhecida como uma ciência que estuda a "linguagem verbal humana". Esta, como um dos ramos do conhecimento que mais se expande atualmente, tenta responder às perguntas básicas: "O que é linguagem?" e "Como a linguagem funciona?"


    O linguista, como pesquisador, busca entender o funcionamento da linguagem através do estudo de línguas concretas, tratando a língua como um objeto que precisa ser analisado de forma prática e direta, assim como acontece em ciências como a Física ou a Biologia. A análise linguística dá maior atenção à fala das comunidades e, em segundo plano, à escrita.

     Diferente da gramática tradicional, a Linguística observa a língua em uso, buscando descrever e explicar aspectos como sons, estrutura gramatical e vocabulário, sem julgar ou comparar esse uso com padrões externos, como normas morais, estéticas ou críticas. Nesse contexto, tornando-se uma ciência descritiva e não prescritiva.

O que é a linguagem?

        O avanço dos estudos linguísticos fez com que vários estudiosos elaborassem diferentes definições de linguagem. Essas definições costumam ter pontos em comum, mas variam na importância que cada autor dá a determinados aspectos. Neste tópico, serão apresentadas duas dessas propostas: a de Saussure e a de Chomsky, ambas baseadas em uma teoria geral da linguagem e da análise linguística.


       Saussure via a linguagem como algo complexo, abrangendo vários domínios, como: o físico, o fisiológico e o psicológico, além de ser tanto individual quanto social. Ele acreditava que a linguagem não poderia ser facilmente classificada, pois era difícil definir sua unidade, desta forma  decidindo focar especificamente apenas na língua, entendendo-a como um objeto mais claro e passível de estudo.

              Para ele, a língua era um sistema social de signos, um conjunto de convenções compartilhadas pela sociedade para facilitar a comunicação. A língua é externa ao indivíduo e não pode ser alterada livremente, pois segue regras coletivas. Além da língua, Saussure identificou a fala como outro componente importante da linguagem. A fala é vista como um ato individual, em que o falante combina os signos da língua, utilizando processos psicofísicos para produzi-los.

            Essa distinção entre linguagem, língua e fala situa o objetivo de estudo da Linguística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua e outra que analisa a fala. Essas duas partes são interdependentes, pois a língua é necessária para a fala, mas a fala também é essencial para a existência da língua. Saussure concentrou seu trabalho nos estudos da língua, que ele considerava um sistema coletivo fixado na mente dos falantes.


          Noam Chomsky, em sua obra Syntactic Structures (1957), trouxe uma nova abordagem aos estudos linguísticos ao definir a linguagem como um conjunto finito de sentenças, compostas por elementos também finitos. Ele argumenta que todas as línguas naturais, faladas ou escritas, possuem um número limitado de sons ou símbolos gráficos. Apesar do número infinito de sentenças possíveis, cada uma é formada por uma sequência finita desses elementos.

            Chomsky afirma que a análise linguística deve identificar quais sequências de elementos formam sentenças válidas e quais não são, distinguindo as propriedades estruturais de cada língua natural. Ele propõe que as crianças não aprendem a linguagem do zero, mas possuem uma capacidade inata de adquirir a linguagem, ativando propriedades universais já conhecidas, fundamentando a teoria do gerativismo.

        Além disso, Chomsky faz uma distinção entre competência e desempenho linguístico. A competência é o conhecimento das regras linguísticas que permite ao falante gerar sentenças em sua língua, enquanto o desempenho é o uso real da língua, influenciado por fatores não linguísticos, como atitudes sociais e emocionais. Para Chomsky, a tarefa do linguista é estudar a competência linguística, que é o conhecimento subjacente ao desempenho.

A importância do cérebro na manifestação na linguagem


           A importância do cérebro na manifestação da linguagem é fundamental, pois ele é responsável por interpretar sons, palavras e frases, além de produzir as respostas linguísticas adequadas.

         Do ponto de vista neurolinguístico, teóricos como Paul Broca e Carl Wernicke identificaram áreas cerebrais essenciais para a linguagem. A área de Broca, localizada no lobo frontal, está envolvida na produção da fala, enquanto a área de Wernicke, no lobo temporal, é fundamental para a compreensão linguística. Lesões nessas áreas podem causar distúrbios na linguagem, como a afasia de Broca (dificuldade em falar) e a afasia de Wernicke (dificuldade em compreender).

   A neurolinguística também destaca a importância das conexões entre diferentes regiões do cérebro, que permitem o processamento simultâneo de informações verbais, visuais e auditivas, essenciais para uma comunicação eficiente. Em resumo, o cérebro não apenas ativa a produção e a compreensão da linguagem, mas também organiza e interpreta os diferentes aspectos linguísticos para que possamos nos comunicar de forma coerente.

Algumas subárea da Linguística 


          A Linguística é o estudo da linguagem e se divide em várias subáreas, cada uma focada em aspectos específicos da comunicação. Aqui estão algumas das principais:

  1. Fonética: Estuda os sons da fala, sua produção, transmissão e recepção.

  2. Fonologia: Analisa os sistemas sonoros das línguas, como os fonemas e sua organização.

  3. Morfologia: Investiga a estrutura das palavras, como são formadas e suas variações.

  4. Sintaxe: Examina a estrutura das frases e as regras que governam a combinação das palavras.

  5. Semântica: Estuda o significado das palavras, frases e textos.

  6. Pragmática: Analisa como o contexto de uso da linguagem influencia o significado.

  7. Sociolinguística: Examina a relação entre linguagem e sociedade, como as variáveis sociais influenciam o uso da língua.

  8. Psicolinguística: Foca na relação entre linguagem e processos mentais, como a aquisição da língua.

  9. Linguística Histórica: Investiga a evolução das línguas ao longo do tempo.

  10. Linguística Aplicada: Aplica teorias linguísticas a questões práticas, como ensino de línguas, tradução e análise de textos.

  11. Linguística Computacional: Estuda a interação entre linguagem e computadores, focando no processamento e análise automática de dados linguísticos.

  12. Estilística: Analisa os estilos de linguagem usados em diferentes contextos, incluindo a escolha de palavras, estrutura de frases e recursos estilísticos. 

  13. Antropolinguística: Foca na relação entre linguagem e cultura, analisando como as práticas linguísticas estão ligadas a aspectos culturais, sociais e históricos das comunidades. 

  14. Linguística Histórica: Estuda as mudanças nas línguas ao longo do tempo, investigando como as línguas evoluem, se diversificam ou desaparecem. 

Estudo pragmático: A Teoria da Relevância 

       A pesquisa que nos propomos a desenvolver ao longo do mestrado, está correlacionada com os estudos da Pragmática, uma subárea da Linguística, que investiga como o contexto e as intenções do falante influenciam o significado das mensagens. A Pragmática lida diretamente com o uso real da linguagem em situações comunicativas e como as pessoas decodificam e interpretam o que é dito ou mostrado, levando em conta o ambiente em que ocorre a interação.

       A Teoria da Relevância, proposta por Dan Sperber e Deirdre Wilson (1995), é uma abordagem pragmática da comunicação que sugere que os seres humanos buscam sempre a máxima relevância ao processar informações. De acordo com a teoria, quando uma pessoa se comunica, ela escolhe informações que são simultaneamente novas e relevantes para o receptor, ou seja, que oferecem o maior benefício cognitivo com o menor esforço.

          Essa teoria é fundamental para entender como a interpretação de textos, como por exemplo os memes, ocorre de maneira eficaz, considerando as expectativas e o contexto do público. Ao aplicar a Teoria da Relevância a memes, é possível compreender como esses elementos multimodais (textos, imagens, sons) são construídos para gerar um impacto imediato e eficiente na audiência, utilizando contexto e conhecimento prévio compartilhado para criar sentido.

Referências 

CHOMSKY, Noam. Syntactic Structures. The Hague: Mouton, 2002

KANDEL, Eric Richard; SCHWARTZ, James Harris; JESSELL, Thomas Michael. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1997.

PETTER, Margarida. “Linguagem, língua, linguística”. In: FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à Linguística: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2003.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: communication and cognition. Cambridge/MA: BLACKWELL, 1995.

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito bom, Raimundo! Didático demais e mt criativo

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  3. Parabéns por sua publicação, Raimundo! O problema grave: voce não coloca faz referência dentro do seu texto sobre 3 pesquisadores. Você escreve sem referência.

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