Reinvenção da Expressão: A Comunicação Não Verbal na Era Digital

 


        Seja bem-vindo(a) a este espaço de pequenas leituras e grandes diálogos! Nesta quarta postagem falaremos um pouco sobre a comunicação não verbal em ambientes digitais. 

A Comunicação Não Verbal Online 💻

         No nosso dia a dia, a comunicação vai muito além das palavras. Gestos, expressões faciais e o tom de voz enriquecem nossas interações, transmitindo emoções e atitudes de forma poderosa. No entanto, no cenário digital, especialmente na escrita mediada por computador, a ausência dessas pistas visuais e sonoras levou, por um tempo, à ideia de que a comunicação online seria limitada, sujeita a ruídos e mal-entendidos. Essa visão, conhecida como a abordagem das "pistas filtradas" (KIESLER; SIEGEL; McGUIRE, 1984), foi muito influente nos primórdios da internet. Mas os estudos mais recentes apontam para uma virada importante: os usuários se adaptaram e reinventaram a forma de se comunicar online, usando os recursos das plataformas digitais para dar conta de tarefas comunicativas complexas. Nesta postagem, inspirada no capítulo “Non-verbal communication online”, de Kate Scott (2022), vamos explorar como a comunicação não verbal se manifesta nos ambientes digitais por meio da apresentação textual, dos emojis e emoticons, e dos populares GIFs de reação.

O poder da apresentação textual📱

             Mesmo sem voz ou gestos, a forma como apresentamos um texto online comunica muito. O uso de itálico, por exemplo, pode alterar a interpretação de um pronome ou simular uma entonação emocional. As letras maiúsculas, geralmente associadas a gritos. podem indicar empolgação, mas também serem vistas como rudes ou inadequadas em contextos formais, como e-mails de trabalho.

           Já a ortografia não padronizada, como em “bom diaaaaa”, ajuda a indicar informalidade, simpatia ou reforço emocional. E até a pontuação ganha novas nuances: o ponto final, em mensagens curtas, pode soar como impaciência ou frieza; enquanto reticências sugerem hesitação, continuidade ou suavização do tom. Tudo isso depende do contexto e da capacidade de inferência do leitor.

Emoticons e emojis: uma linguagem visual em constante evolução😱


          De simples carinhas feitas com sinais de pontuação a um teclado inteiro cheio de figurinhas coloridas, os emoticons e emojis evoluíram muito. Hoje, não servem apenas para representar expressões faciais, mas para comunicar emoções, tons de voz, atitudes, relações interpessoais e até funções pragmáticas como amenizar um pedido ou mostrar que algo é brincadeira.

        Além disso, funcionam como indicadores de força ilocucionária, ou seja, ajudam o leitor a entender qual é o verdadeiro ato de fala por trás da mensagem. Um emoji de piscadela 😉, por exemplo, pode sinalizar ironia, sarcasmo ou leveza. E mais: emojis podem substituir palavras, guiar inferências e gerar efeitos de sentido lúdico, subjetivo e até poético.

GIFs de reação: expressando o afeto em loop👀

             

            Os GIFs de reação são pequenos vídeos animados que circulam pelas redes sociais e aplicativos de mensagem. Muitas vezes retirados de filmes, séries ou memes, eles condensam expressões faciais e gestos em uma forma envolvente e rápida de se comunicar.

        Mais que entretenimento, os GIFs atuam como representações visuais do afeto, funcionando como gestos digitais. Eles também carregam elementos culturais, pois seu uso revela o conhecimento de mundo por parte dos membros presentes na interação. Além disso, são altamente contextuais e podem transmitir significados diferentes a públicos diferentes, funcionando como ferramentas de afirmação identitária e até de crítica social.

Conclusão👄

      A comunicação não verbal, presente nos ambientes digitais, não é uma cópia empobrecida da linguagem face a face, ela é uma reinvenção criativa e sensível aos contextos de interação social. Usuários das redes adaptam recursos como tipografia, pontuação, emojis e GIFs para enriquecer suas mensagens, expressar emoções, marcar intenções e construir relações. Esses elementos não têm significados fixos: são pistas que o leitor interpreta com base no contexto, no repertório comum e nas inferências pragmáticas. Assim como numa conversa ao vivo, o que está por trás da mensagem pode ser tão importante quanto as palavras em si.



Referências

KIESLER, Sara; SIEGEL, Jane; McGUIRE, Timothy W. Social psychological aspects of computer-mediated communication. American Psychologist, v. 39, n. 10, p. 1123–1134, 1984. DOI: 10.1037/0003-066X.39.10.1123.

SCOTT, Kate. Non-verbal communication online. In: SCOTT, Kate. Pragmatics online: language and digital media. Abingdon: Routledge, 2022. p. 82-107. Disponível em: https://padlet.com/giseldacostas/bibliografia-letramentos-e-multimodalidade-tbiem1st8pit/wish/KxJvagzRRRklWAg0. Acesso em: 11 abr. 2025.

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